Refúgio ao fácil

Figurativismo Abstrato (2004)

Frequentemente acusa-se a arte, principalmente a contemporânea, de anódina.  Ninguém poderá culpar o expectador moderno de insensível por julgar tão desclassificado o que se estar sendo ofertado nas bienais, museus e salas de exposições mundo afora. Desde que a arte passou a ser tida, como uma atitude e não como uma expressão de conteúdo estético, uma onda decadente de pseudo-artistas aproveitou a suposta facilidade de criação, para fazer de suas más qualidades estética e falta de talento, objeto de seu ofício. Em visita recente à Pinacoteca de São Paulo, deparei-me com um quadro do multiperformático (deve ser isso que ele é) “artista” brasileiro Nelson Leiner, que se insere nesse contexto de casuísmo e decadentismo artísticos para se fazer respeitado. Intitulado Figurativismo Abstrato, a “obra” é composta da superposição de imagens de personagens animados cujo propósito, aparente, e sempre repetido, é o de transgredir, desmistificar e ridicularizar a importância da arte. Em contraste com a imponência e o garbo do espaço o melífluo artista impõe uma galhofa. Ora eu me pergunto, se se quer ainda por em causa o estatuto de nobreza da arte e torná-la um produto consumível e descartável, é preciso mesmo divorciar-se da criatividade e impor como padrão o exercício de expressão de mundo pessoal do artista como única alternativa à arte contemporânea?


Um comentário:

Tita disse...

Nenhuma atitude ou obra pretensamente transgressora vai ser autêntica.
A transgressão não vem simplesmente da intenção, mas como resultado de um novo olhar. Senão fica parecendo aquele pessoal que acha maravilhoso ser hippie e para isso compra roupas de griffe inspiradas nos anos 60 e 70, quando o movimento hippie, na verdade, era um movimento que fugia dos padrões da moda, que gritava pela paz em plena guerra do Vietnã, era a defesa da natureza em contraste com o vertiginoso capitalismo pós-guerra, era o comportamento livre no sexo e nas drogas numa geração criada por pais conservadores. A atual geração não quer romper com o sistema, quer parecer rebelde para lucrar com o sistema. E isso é óbvio para o público como um todo. Mas a crítica, os artistas sem talento (mas com amigos influentes), os curadores de museus e exposições e todo o mercado da arte faz de conta que existe uma arte "transgressora" pq ainda há um público com poder aquisitivo que usa essa "arte" insossa como investimento.