18
de
fevereiro
São sem conta o número de novos extremistas
Bosch. A Parábola dos Cegos (1568): Essa
tela é uma alusão ao Evangelho de Mateus 15:14 "Deixai-os: são condutores
cegos: ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova."
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Quando surgiram no face levantes
contra os discursos de saudação ao retorno da ditadura, achei exagerado. Não
quis acreditar que existisse alguém capaz de cogitar a hipótese, de ter no
governo, homens de coldre na cintura. Achei que eram poucos e insignificantes
as vozes que se alevantavam pedindo o injustificável. E por isso era dispensável
perder tempo com eles. Estava errado.
Não eram exagerados os levantes e nem poucos os extremistas. Há sim, mais e mais, quem simpatize com os imoderados e ande de mãos dadas com os imorais que fingem
inocência histórica. Por todos os lados, as bestas ganham adeptos e seguidores,
e uma legião de cegos, levados por embusteiros, seguem prazenteiros rumo ao
abismo.
13
de
fevereiro
THE BOOKLOVERS
Dia a dia admiro mais e mais os
portugueses. Motivos não faltam para isso. Um deles é que lá eles acarinham os
seus escritores. Dão-lhes atenção, promovem os seus talentos e fazem festa com
a sua existência. A prova provada dessa realidade pode ser vista no mais novo
projeto do escritor, músico e fotógrafo Fernando Dinis. The Booklovers, é um
saite que registar informalmente escritores portugueses. Através de belas
fotografias e um despretensiosos perfil biográfico ficamos sabendo que os
autores que mais admiramos têm olhos tão penetrantes quanto as palavras que
fustigaram o nosso corpo, quando estivemos a ler os seus livros.
P.S. Há pelos menos um nome que aguardo
ansiosamente por sua chegada a essas paragens. Ele é um blogueiro avesso a
cerimonias, talvez por isso custe a aparecer, mas me traria muito contentamento
em saber que também ele esteve ao lado de tantos bons nomes.
11
de
fevereiro
Vazio
O secretário do Alckmin que admira idealismo do Isis.
É somente em momentos de grave crise
moral, ética e política, como a que vivemos agora, que o desarrazoamento, ganha
respeitabilidade e sentimentos antes reprimidos encontram voz e profetas. Tempos nebulosos nos esperam no futuro. Quem será
capaz de nos livrar dessas ciladas? Apeguem-se aos botes e corram à popa que
esse barco desgovernado, está em rota de colisão.
8
de
fevereiro
Embotar os sonhos
Foto: Ferdinando Scianna – Capri, 1984.
Penso, que ainda vive em mim, uma
vontade ridícula de ganhar o mundo com uma mochila nas costas. Quem me conhece,
também pensaria o mesmo que eu, se soubesse o que vive em mim de sonhos. Ridículos
sonhos. Querer bater o pó da estrada, tendo como veículo, os próprios pés, e
como bússola, na ausência de um melhor guia, o pau da venta, são coisas que não
me cabem mais. Tivesse hoje os meus velhos dezessete anos. Andasse só no mundo,
e talvez essa ideia não fosse, assim como parece hoje: ridícula. Mas já se
passaram os anos. Os dezessete, tenho-os hoje em dobro. Assim como também não
ando mais só. A vida vai embotando os nossos melhores sonhos e se encarregando
de tornar, o que parecia outrora lindo, um tormento sem fim, por se saber
impossível.
Desertificar
Já nem bem completei três décadas de
vida e percebo, com desagradável surpresa que, ando a despedir-me, inesperada e
involuntariamente, daqueles que, ainda ontem, emolduraram comigo uma foto para
o futuro. Sinto que a vida vai aos poucos se desertificando.
Literatura clássica e suas relações com a cultura popular: Ceci e Peri - Trio de Ouro (Carnaval de 1937)
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Fala-se amiúde em excluir os clássicos das
escolas. Os defensores dessa ideia dizem serem as obras inacessíveis aos jovens.
Os clássicos seriam datados e diriam pouco às massas de adolescentes oriundas
das camadas pobres. Melhor proveito tirariam eles em ler as obras mais “acessíveis”
(entenda-se os best sellers). O
curioso é que, só na cabeça dos defensores, da exclusão dos clássicos das
escolas, ocorre pensar que eles são inacessíveis as camadas populares. Desde
sempre a literatura dita, canônica, esteve intimamente ligada as raízes
populares em parcerias insuspeitas. Veja-se a propósito o caso do livro O
Guarani. Anos depois de Carlos Gomes estrear a sua versão musical da obra de
José de Alencar no Teatro Scala de Milão, as histórias de Peri e Ceci
ressurgiriam em uma bela intertextualidade do clássico com o popular no
carnaval de 1937. Quem encarregou-se da tarefa foi o compositor Príncipe Pretinho e teve como interpretes o Trio de Ouro: Dalva de Oliveira, Herivelto
Martins e Nilo Chagas. A marchinha foi gravada no primeiro disco do trio. O
Guarani também inspirou vários sambas-enredos de sucesso, que desfilaram pelo
carnaval através da interpretação popular. A Império Serrano levou para avenida em 1954 o enredo: O Guarani, baseado na obra de J. de Alencar e inspirada na
música de Carlos Gomes; em 1971 foi a vez da Unidos de Bangu desfilar na
avenida com o enredo: O Guarani, de José de Alencar; em 1990 quem encantou o
público, recontando no carnaval a saga do amor de Ceci e Peri, foi a União de
Vaz Lobo (Guaraná, Guarani). Esses são alguns dos exemplos da relação de
proximidade entre o clássico e o popular. Tivemos outros sambas-enredos,
inspirados na obra do Cearense José de Alencar. Não só José de Alencar e sua
obra magistral mereceram honraria iguais, outras grandes obras da nossa
literatura também foram acarinhada pelo popular em marchinhas, sambas e outras
manifestações que denunciam a sua inquestionável relação de proximidade. Agora
pergunto? Como pode ser tão inacessível, uma obra que esteve sempre ligada as
fontes de inspiração popular? Seriam hoje os nossos jovens tão atabalhoados que
não se dariam conta daquilo que foi tão evidente em outros tempos, por quem
teve bem menos acesso a informação do que eles?
1
de
fevereiro
O riso na fotografia de Elliot Erwitt
Já referi aqui sobre como nada escapa ao
interesse da fotografia. Todos os temas lhes são caros. Vemos por aí fotografia
de rua, fotojornalismo, fotografia de moda, de natureza, paisagens, viagens,
etc... Mas há um tema em particular que, quase nunca vemos, ao menos com a
recorrência dos demais. Refiro-me a fotografia de cunho humorístico. Falta
humor nas fotografias de nosso tempo.
Não creio que isso ocorra porque os
fotógrafos o entenda como uma expressão menor. Esta é uma interpretação dos tolos
e dos tirano. Os tolos pela estultícia de suas mentes e os tiranos pelos temores
de que suas ambições encontre questionadores, que ousem desmentir as certezas que
lhes asseguram as posições.
Acho mais provável a alternativa que
advoga a ideia de que fazer humor em fotografia é difícil. E por essa razão, os
interessados em abordarem o tema, desistam da ideia quando mal aventaram a
possibilidade. Fazer humor bobo, patético ou grosseiro tem sido o mais próximo
que muitos conseguem chegar do tema. Esse tipo de humor qualquer um é capaz de
fazer. Mas um humor que profane o solene, desbote o verniz, que maquila as
aparências e infrinja as certezas postiças que, envolvem a nossa sociedade, esse
humor é tarefa para destemidos, que não se deixam vencer pelas ideias vazias
que vai pelas cabeças dos patetas.
Humor pateta é fácil. Humor com
substância interrogativa e desvendadora da natureza humana são outros
quinhentos. Mas há pelo menos um nome na fotografia que tomou para si a tarefa de
encarar o tema com o talento e perspicácia que lhe é devida. Foi o francês Elliot
Erwitt (Elio Romano Ervitz é o seu nome de batismo). Erwitt nasceu em Paris em
1928. Foi criado na Itália, mas a partir de 1941 adotou os EUA como pátria. Fez
isso quando teve que fugir com a família, da tirania nazista que encobria a
Europa e ameaçava o mundo com ideias tenebrosas de hegemonia racial.
Nos EUA Elliot Erwitt construiu uma
carreira respeitada e se tornou um dos poucos fotógrafos dedicados ao riso. Sua
lente em décadas de atividade esteve apontada para os flagrantes de momentos irônicos
e indiscretos que revelam detalhes risíveis do nosso comportamento quando não
estamos ocupados demais em fingir decoro. Veja-se a propósito disso a seleção
de algumas de suas melhores fotografias sobre o tema abaixo:
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Versailles, 1975.
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Espanha, Madrid, 1995. Museu do Prado.
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East Hampton, Nova York, EUA, 1983.
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Central Park, Nova York, 1990.
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