Dizem que as bibliotecas nas
universidades americanas funcionam 24 horas por dia. Mesmo que ninguém esteja
nelas, elas lá estão esperando quem queira delas tirar proveito. Há anos os
americanos descobriram aquilo que a gente parece distante de saber; que bibliotecas
não são lugares para depósito de livros. Depois da revolução feliz que foi a
criação da rede de bibliotecas públicas que mudou o país - mais poderoso do
mundo - estas instituições, passaram a ser pensadas também como lugares
festivos, onde se pode estar a lê e gestar um mundo novo. Quando apanharemos
essas lições? Penso que esse tempo está longe. Sim porque o que poderíamos apanhar de bom não apanhamos, mas sobra interesse nas futilidades e quinquilharias que eles produzem.
26
de
julho
Martine Franck
Foto: Henri Cartier-Bresson - As pernas de Martine, 1967.
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Martine Franck. Eis um nome. Descobri
hoje este nome. Não sei como ele me escapou durante tanto tempo. Explico.
Martine Franck foi a companheira de Henri Cartir-Bresson. Ela viveu com ele até
a morte dele em 2004. Ambos foram fotógrafos e exerceram com igual maestria a
nobre arte de plasmar instantes. Ambos
estiveram envolvidos em trabalhos que tinham como tema um ao outro. Mas coube a
H.C-B. o lugar de eminência parda no mundo da fotografia. Ninguém que leve a
sério o estudo da arte pode mesmo ignorar as suas estimadas contribuições.
Há anos estou envolvido no estudo e na
apreciação da fotografia. Por esse tempo, Bresson esteve sempre presente nos
textos, blogs e livros que ando lendo sobre o tema. Porém, o nome de sua
companheira, nunca, antes de hoje, havia atravessado o meu caminho. Parecia que
ela não existia. Foi em mais uma incursão por nomes de relevância no cenário fotográfico, que encontrei casualmente o nome de Martine Franck e pude assim finalmente encontrar a fonte do talento de Bresson.
De
cara sentir como se tivesse dado o primeiro passo para compreensão daquilo que
julgava saber, mas estava enganado. Não sei nada sobre fotografia. Menos ainda
sobre os grandes nomes dessa nobre arte. Apresso-me pois, para saber mais sobre
Martine e assim parar de fazer figura de parvo por julgar com lupa tão míope um
universo tão grande e variado.
Descubro
que ela foi versátil em seus temas. Começou por cultivou o abstracionismo e o
surrealismo. Dedicou-se, mais tarde, àquilo que se chama fotografia de rua ou
fotojornalismo. Neste gênero demonstrou uma visão enternecida da realidade.
Ainda mais caprichosos são seus registros no gênero retratista. Aqui ela
transpôs as lições do retratismo ambiental de Arnold Newman e estabeleceu
indubitáveis relações entre a pessoa retratada e o ambiente que mais a
caracterizava. Veja a propósito o seu retrato de Foucault ou o registro do
fotógrafo Paul Strand.
Foto Martine Franck - Michel Foucalt, 1978, Paris.
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Foto: Martine Franck - Paul Strand
Sobre esta série de retratos merece também destaque, os seus flagrantes do marido em ambientes bucólicos e idílicos, parte
de uma nova fase do fotógrafo que deixou a máquina para se dedicar no fim da
vida a pintura.
Ainda tenho muito caminho para
percorrer. Devo essa lição a descoberta de Martine Franck, que me destituiu as
certezas sobre o que conhecia e instaurou em mim o desejo de continuar
perscrutando os mestres e suas divinas criações.
Foto: Martine Franck - H.C.Bresson.
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Foto: Martine Franck - H.C.Bresson.
Mentes doentias
Há algo de doentio no fato de alguém ver
imoralidade em tudo. Algo de muito perverso e perturbador se passa na cabeça de
alguém que entende que o nu com fins a expressão artística é merecedor de
reprovação.
Ao fim e ao cabo o que se passa mesmo é que
quem assim age manifesta em si uma mentalidade reprimida fruta de uma
experiência de vida limitada pela visão tacanha das potencialidades de um
corpo.
As manifestações desse puritanismo estão
por toda parte. Nos EUA quando foi lançado o álbum: Is This It dos Strokes a
capa trazia uma surpreendente e insinuante imagem, de uma mulher que tinha
sobre as nádegas uma mão pousada com uma luva preta. A foto é um primor, pelo
que tem de sugestivo. E em arte a sugestão é tudo.
Tamanha ousadia foi tudo o que bastou
para que os puristas se insurgissem contra o CD. Na tiragem seguinte do álbum,
a capa original foi substituída por uma imagem inócua, porém, muito mais
tranquilizadora das consciências moralizantes que vigiam o que podemos ou não
ver.
Nos jardins de Garduño
Foto: Flor Garduño.
Encantam-me os trabalhos da fotógrafa
mexicana Flor Garduño. Tenho um dos seus livros de fotografia bem à vista na
minha estante. Ele está lá onde à mão pode alcança-lo com um simples esticar de
braços. Tanta devoção se deve ao fato de que essa obra, que não canso de gastar
os olhos, me põe, constantemente, a pensar, como são belas as coisas do mundo.
Especialmente o feminino nelas.
No livro FLOR (é este o título da obra,
homônimo da autora) podemos ver mulheres desnudas: cercadas, enfronhadas,
carregando ou embrulhadas por flores. Tomadas apressadas as imagens poderiam
dizer pouco. Porém, se pararmos para pensar que, a arte é um veículo que nos
solicita a ultrapassagem dos significados imediatos para alcançarmos outros, as
flores podem então, serem tomadas, por uma mensagem simbólica, que nos remete a
beleza feminina e ainda, pelo fato de murcharem depressa, também podem sugerir
a inconstância e efemeridade da vida.
Tenho ou não razões de apreciar o
trabalho dessa mexicana?
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