Há qualquer coisa de desconcertante na leitura de, O livro das Ignorãças, do poeta matogrossense Manoel de Barros (n. 1916). Qualquer coisa para as quais as palavras usualmente utilizadas não estão prontas para descrevê-las. Por isso, é preciso, como ele mesmo aconselha botar “delírio” no verbo, “adoecer de aflição” as palavras, desequilibrar a razão, provocá-las, reinventar sentidos para elas, para que aí sim, renovado a linguagem com suas expressões inusuais, ler a sua poesia. Diversa de toda produção poética da nossa literatura, sua obra está no ponto em que a escrita salva e redime-nos de todos os desgastes. Sua preferência pela fala do homem comum, das crianças, e da exaltação da natureza; têm como intenções reaproximar o homem, incapacitado e quase inutilizado, para valorização do que é aparentemente inútil. “Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz”, diz em AUTO-RETRATO FALO, único poema titulado de todo o livro. Ocupar-nos de uma poesia, tão intransigente com a linguagem, renova-nos os sentidos e valoriza nossa percepção do sutil. Deixar-se voar fora das asas, como quer o poeta é, experimentar enxergar sem intermediárias retinas o espetáculo da vida pelo constante redescobrimento das palavras.
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