Poesia


A propósito do dia da poesia, Teo Junior resolveu me provocar. Segundo ele Bandeira é superior a Cabral. Ele disse isso porque sabe que tenho muita afeição a poesia cabralina e ao estilo duro e seco que esse poeta empreende em seu versos. Somente Teo Junior é capaz de tentar provocar uma discussão baseado em fatos tão irrelevantes. A poesia, meu amigo, pra ser de verdade, ignora, qualquer gênero, escola, ou linha de pensamento. Ela é maior do que tudo isso. Agora eu me pergunto o que será mais fácil? O que será mais poético o amor, a dor de cotovelo ou uma pedra, uma faca ou bala. Quais dessas palavras estarão em melhores condições de narrar ao homem sentimentos e emoções? Todas. O poeta extrai das palavras sugestões. Agora, durante muito tempo, a única forma aceitável e usual de fazer poesia esteve relacionada a certo transbordamento de emoções, discursos confecionais e quejados.  Quando J.C. escolheu as pedras ele optou pelo caminho mais difícil. Ele inaugurou uma poesia que arrancava dos objetos inusuais e de forma incomum uma mensagem, que não se restringia aos estados espirituais e amorosos do eu lírico. Ele disse: “todas as palavras são poética”. O bom poeta será portanto, aquele que descondiciona as palavras de seu sentido dicionário, e sugerir  à elas sentidos até então jamais empregados. Esse é o verdadeiro ofício do poeta - resgatar as palavras do sentidos convencionais. João Cabral fundou, com isso, uma poesia que ainda não existia. Poucos podem dizer isso. Poucos poetas podem dizer serem criadores de alguma coisa. Quanto aos demais - leia-se ai os líricos - eles não tiveram coragem de encarar o trabalho de fazer poesia com objetos inusuais. Eles optaram pela tradição, pelo caminho já trilhado, pela picadas conhecidas e seguras. Talvez temessem contraria o público ou pior, desmentir aquilo que os legisladores recomentaram como socialmente aceito para aquilo que o homem médio se limita a ver. Ótimo. Nem todos são suficientemente arrojados. Isso não é um problema. O problema estar em querer tornar uma coisa superior a outra. João, sempre buscou o seu próprio caminho. Assim como muitos inovadores ele abriu a sua própria estrada. Nem todo mundo aceita as novas ideias. Haverá sempre aqueles, que preferem as zonas de conforto e, outros, que mesmo despedaçados pela injustiça, desconfiança e incompreensão, nunca desistirão de inovar. Creio que só avançamos na medida em investimos em novos caminhos - não estou dizendo que devemos ignorar os velhos- porém, não devemos viver a vida inteira sem desejar algo mais. Gosto da poesia de João Cabral porque pressinto nela um vigor que não encontro em outros poetas. A poesia cabralina me descortina novas possibilidades não só de compreensão do humano, mas também, e acima de tudo, mantém sempre viva a discussão dos limites da linguagem. Ele força a palavra a dizer sempre mais do que habitualmente estava acostumada a dizer, mantendo controle sobre o discurso.

Nenhum comentário: