A fantasia da beleza

Foto: Alfred Stieglitz
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A mulher que oferta, ao espectador anônimo, o seio em branco e preto, traz também na face um olhar de indisfarçável enfado. A oferenda, portanto parece resignada. Mas não é a antítese que me atrai. E sim sua despreocupação em transmitir uma visão idealizada, glamorizada da figura feminina. Não há uma tentativa aqui de suprimir as imperfeições, tão desejadas no mundo de hoje. Elas, ao contrário, são convocadas e expostas sem pudor. O cabelo desgrenhado, o olhar macilento, que prenuncia antes o sofrimento represado do que a chama vicejante da juventude, os seios murchos, a roupa indefinida, mostram uma despreocupação em maquilar a mulher e redimi-la das inevitáveis agressões do tempo. O ideário aqui é outro. E, no entanto, essa imagem, que não nega os sucos do tempo, nem se preocupa em artificializar a beleza, ainda assim é bela em sua sujidade realista. O caráter da beleza talvez, como sugere a imagem, não esteja numa atitude postiça, mas sim em certa sinceridade realista que não nega da vida as suas impurezas e imperfeições. 

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