Quadro: Caravaggio- “Os Jogadores” óleo sobre tela com 99 x 107
cm, 1594.
As investigações da Política Federal que
desbaratou um esquema de corrupção nas obras públicas do Governo Federal,
especialmente na Petrobrás, começou a sua fase final. Executivos de 6 das
maiores empreiteiras do país estão sendo acusados, com vultosas provas, de
pagarem propina à dirigentes da Petrobras para ganharem licitações em obras
orçadas em bilhões de reais. Dado a sofisticação do esquema de desvio de
dinheiro, o Procurador Geral da República classificou o ato de “verdadeira aula
do crime”.
Ao mesmo tempo em que este esquema era
desvendado, outro não menos vergonhoso, assolava o Estado de São Paulo. O
Ministério Público daquele Estado avaliou que as obras do metrô, entre os anos
de 1998 e 2008, foram fraudadas, resultando em prejuízos milionárias para os
cofres públicos.
Na mesma semana em que tudo isso era
exposto ao público, outras denúncias de corrupção atingiram as Forças Armadas e
a Confederação Brasileira de Vôlei. Uma empresa americana de manutenção de
turbinas de avião denunciou à comissão americana antifraude ter subornado
funcionários da FAB e do gabinete do governo de Roraima, para conseguir
contratos no Brasil, Peru e Argentina. Já a CBV teve o seu patrocínio suspenso
com o BB em razão de uma apuração de desvio de mais 30 milhões nas contas da
CBV durante a administração do seu ex-presidente.
Todas estas vexatórias notícias sugerem para
os mais otimistas o fim da impunidade de atos ilícitos no país. Nunca antes na
história desse país ocorreu uma erupção tão grande de denúncias e investigações
de atos de delinquência. Confiando que a lama é purificadora, muitos acreditam
que agora passaremos o país a limpo.
Está mais fácil um camelo passar pelo
buraco de uma agulha do que ver isso acontecer. A perplexidade dos fatos ora
expostos com todas as vísceras, envergonha uma pequena parcela da população.
Uma diminuta parcela. A grande maioria não só ignora os fatos, mas também
colabora, a sua maneira, para que estes crimes graduados tenham nascedouros bem
simples e cotidianos, permitindo que eles se perpetuem amanhã e depois de
amanhã.
Não é difícil encontrar quem mesmo se
revoltando com as notícias deixe de perpetrar pequenos delitos. Não adianta o
padeiro torcer por ver o executivo na cadeira e continuar roubando no peso do
pãozinho. Não adianta o professor elogiar a ação da polícia e depois maquiar a
sua declaração de Imposto de Renda. De que vale a esperança de dias melhores
quando não nos furtamos o pagamento de um cala
boca às autoridades de transito, que nos flagraram rodando pelo acostamento
da rodovia ou dirigindo sem carteira.
Em Elogio da Loucura o escritor Erasmo
de Roterdã diz que a grande maioria de nós temos olhos de lince para enxergar
os defeitos alheios e de tartaruga para ver os nossos. Seria bom apanhar a
lição do escritor Holandês e fazer do caso recente uma auto crítica de nossas condutas
diárias. Se queremos mesmo passar o pais a limpo e desinfetar as consciências,
temos que primeiro iniciarmos a faxina por nossa casa. Antes de notar o
argueiro no olho do outro é preciso ver a trave no nosso.
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