
A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES

UM OLHAR SOBRE CANUDOS
MÚSICA AO AR LIVRE
Nas ruas de Caetité, não obstante o frio que a essa época do ano deixa de ser normal e passa a assustador, em meio aos silvos de ventos gélidos e aos burburinhos dos carros que passam curiosos a bisbilhotar os cantos escuros, a espreita de algum caso; e dos bêbados que cantarolam tristes melodias, ouviu-se por toda parte, nessa última quarta-feira 16, uma outra música, muito mais antiga e alegre. A cidade inteira então correu a ver o que se passava. No átrio da Catedral Nossa Senhora Santana deram, com um improvável caminhão-palco, pronto para o pianista Arthur Moreira Lima, tocar algumas das músicas que se mantêm, alheias às flutuações dos gostos e dos momentos, preservadas perante possíveis contrariedades. A seguir, ameaçou chover. O céu cobriu-se de premonitórias manchas. Contudo, ninguém, que se abrigava ao relento da noite, arredou pé, caso contrário, teriam perdido as estonteantes proezas musicas de um solista virtuoso. Foram, pelo menos, uma hora e meia de absoluta comunhão, ou deveria dizer exorcismo, entre público e musico. Moreira Lima tem um repertório prodigioso, Bach, Beethoven, Chopin, Astro Piazzolla, Ernesto Nazareth, por isso, poderia ter continuado tocando por horas que ninguém cansaria de ouvir, ao menos, essa foi a impressão que ficou da reação vinda da platéia, extasiada com o som que vinha do palco de um caminhão.
CITAÇÃO, O1
“os inimigos da literatura não são as pessoas que não compram os livros; são pessoas que não lêem”
HÁ VENDA DE INDULGÊNCIA NAS UNIVERSIDADES

Quem julgou que o problema era novo, avaliou errado. Há muito que ele vem ocorrendo sem nenhum impedimento. A mais de dois séculos Adam Smith já denunciava nas universidades de sua Escócia a venda de monografias e outros trabalhos acadêmicos por encomenda. A permanente prática dessa atitude vexatória desnuda o baixo grau de moralidade que permeia algumas de nossas universidades. Futuros doutores, professores e mestres, formados na malandragem, corrompem e desacreditam instituições ciosas de seu prestigio. Ninguém se pergunta, no entanto, por que tudo isso persiste. Tenho pra mim que essa prática nefasta se deve ao declínio abrupto da qualidade do corpo docente. Num ciclo vicioso de manutenção e reprodução, professores sem qualificação pedagógica mínima, sem produção cientifica (há uma ou outra honrosa exceção), e pior completamente desatualizados da nova produção literária, ascendem às cadeiras dos cursos das universidades. Esses, formados com a indulgência de alguns não exigirão dos seus, aquilo que não lhes foram exigidos; trabalho. O continuo depauperamento dos currículos e a falta de material bibliográfico, nas bibliotecas, contribui ainda para conservação dessa devassidão. Hoje já não surpreende ninguém cartazes oferecendo “trabalhos acadêmicos” em pleno mural da universidade. Não tarda é isso passa a ser uma constante. A cada dia tem uma degradação moral mais acentuada em todas as camadas da sociedade, observa o tropicalista Tom Zé. Nenhuma instancia se salva.