Nas ruas de Caetité, não obstante o frio que a essa época do ano deixa de ser normal e passa a assustador, em meio aos silvos de ventos gélidos e aos burburinhos dos carros que passam curiosos a bisbilhotar os cantos escuros, a espreita de algum caso; e dos bêbados que cantarolam tristes melodias, ouviu-se por toda parte, nessa última quarta-feira 16, uma outra música, muito mais antiga e alegre. A cidade inteira então correu a ver o que se passava. No átrio da Catedral Nossa Senhora Santana deram, com um improvável caminhão-palco, pronto para o pianista Arthur Moreira Lima, tocar algumas das músicas que se mantêm, alheias às flutuações dos gostos e dos momentos, preservadas perante possíveis contrariedades. A seguir, ameaçou chover. O céu cobriu-se de premonitórias manchas. Contudo, ninguém, que se abrigava ao relento da noite, arredou pé, caso contrário, teriam perdido as estonteantes proezas musicas de um solista virtuoso. Foram, pelo menos, uma hora e meia de absoluta comunhão, ou deveria dizer exorcismo, entre público e musico. Moreira Lima tem um repertório prodigioso, Bach, Beethoven, Chopin, Astro Piazzolla, Ernesto Nazareth, por isso, poderia ter continuado tocando por horas que ninguém cansaria de ouvir, ao menos, essa foi a impressão que ficou da reação vinda da platéia, extasiada com o som que vinha do palco de um caminhão.
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