13
de
junho
Narcisistas ou quando existir é uma angústia
Foto: André Gelpke, Christine au miroir, 1976
.
Somos tão violentamente
forçados a convivermos com imagens de realidades idealizadas, que não conseguimos
nos encarar diariamente sem certos queixumes ao que de natural e incontornável há
na natureza humana. Envelhecer virou um pecado. Ostentar rugas que já foi um
sinal de respeito, hoje é um inequívoco índice de derrotismo e sinal de
decadência. Tudo isso pode ser facilmente, segundo o credo publicitário, redimido pelo consumo de cremes, dietas,
roupas de grife, perfumes caros, carros, celulares, tintura, botox, e tantas
outras fantasias encapsuladas. Enredado pelo discurso persuasivo da publicidade
enganadora dos médias, traímos nossos
mais puros valores e socorremos nossa auto-imagem do escárnio público,
recorrendo aos artifícios cosméticos propagandeado como solução mágica de todas
as nossas angustias e infelicidade. A publicidade, com seus artifícios de prestidigitador,
nos seduzem com uma imagem destorcida de nós mesmos, para depois nos vender a solução definitiva contra
os males de existir.
9
de
junho
A fantasia da beleza
Foto: Alfred Stieglitz
.
A mulher que oferta, ao
espectador anônimo, o seio em branco e preto, traz também na face um olhar de indisfarçável
enfado. A oferenda, portanto parece resignada. Mas não é a antítese que me atrai.
E sim sua despreocupação em transmitir uma visão idealizada, glamorizada da
figura feminina. Não há uma tentativa aqui de suprimir as imperfeições, tão
desejadas no mundo de hoje. Elas, ao contrário, são convocadas e expostas sem
pudor. O cabelo desgrenhado, o olhar macilento, que prenuncia antes o
sofrimento represado do que a chama vicejante da juventude, os seios murchos, a
roupa indefinida, mostram uma despreocupação em maquilar a mulher e redimi-la
das inevitáveis agressões do tempo. O ideário aqui é outro. E, no entanto, essa
imagem, que não nega os sucos do tempo, nem se preocupa em artificializar a
beleza, ainda assim é bela em sua sujidade realista. O caráter da beleza talvez,
como sugere a imagem, não esteja numa atitude postiça, mas sim em certa
sinceridade realista que não nega da vida as suas impurezas e imperfeições.
5
de
junho
O declínio da crítica
Ao pensador de
múltiplos saberes e larga tradição cultural, os jornais de hoje, assim como
acontece com as tevês, preferem, por razões óbvias, ter como crítico o leitor
impressionista e opinativo de primeira hora. A relativização da crítica
desqualificou o papel de mediador do crítico entre o público e a obra e teve
como principal efeito um rebaixamento do debate qualificado dos bens culturais
produzidos nas últimas décadas. "Tipo assim, fantástico" , “adorei”,
“desempenho magistral”, "curti muito" são algumas das novas e
respeitadas contribuições do espírito renovador do homem público. O sintoma
mais evidente desse fenômeno, que não atinge somente o espaço da cultura, mais
também se estende por outras áreas como, a política, religião, esporte e tantos
outros espaços de debate; foi que com o banimento do crítico, como alguém que
desentranhar do texto noções insuspeitas e clareia zonas obscuras das obras,
investindo estudo e fidelidade ao ofício, foi à tendência de enfraquecer os
debates e aniquilar do espaço público o espírito crítico qualificado. Em razão
disso a indústria cultural, quase sempre molestada com as insistentes intervenções
críticas, conquistou o cenário perfeito para proliferação de seus ideais de
transformar a cultura em entretenimento vazio, mas muito rentável.
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