A história desse livro se confunde com a trajetória de seu autor. James Joyce (1882-1941) contava vinte e dois anos em 1904, quando escreveu um ensaio autobiográfico, para recém fundada revista Dana. O ensaio foi recusado pelos editores, que alegaram não poder publicar aquilo que não entendiam. Na verdade a objeção fio às menções a relações sexuais descrita pelo herói. Seja como for, Joyce resolveu trabalhar na continuidade do ensaio e transformá-lo em livro. Em 1914, dez anos depois, Um Retrato do Artista Quando Jovem chegava às suas páginas finais. Mesmo assim, o livro só veio a ser publicado dois anos depois em Nova York no ano de 1916. No seu primeiro romance, James Joyce descobre que podia se tornar um artista falando sobre o processo de se tornar um artista. No livro seguimos os passos do jovem Stephen Dedalus, alter ego de Joyce. Dos primeiros anos de sua vida à juventude libertária. Divididos em cinco capítulos, seus episódios variam na forma e no estilo para ajustar-se às diferentes idades e fases do seu herói. Diverso de tudo o que havia na ficção Inglesa da época, os romances típicos eram os de H. G. Wells e Arnold Benett, Joyce inaugura uma nova fase da literatura. O que nos faz pensar que a literatura escapa aos conceitos fechados e dogmáticos que muitos tentam impor. Seu caráter é sempre o da provisoriedade. Em Joyce a estrutura narrativa não mais se assenta em ações onde o impacto direto de um personagem sobre o outro tece o drama. O que vemos, ao contrário do que ocorria no romance comum, é uma descrição psicológica do personagem, como numa série de retratos e em estágios sucessivos de seu desenvolvimento. Joyce ainda introduziria largamente o uso do monólogo interior que enfatizava as ocorrências psicológicas no personagem. Com isso ele definiu um estilo, seguido de perto por muitos outros tantos autores como, Virginia Woolf e a nossa Clarice Lispector, que não escondia sua predileção pelo estilo psicológico à moda do Irlandês. A história do livro é contada sobre o ponto de vista de uma única personagem, Stephen Dedalus, que se move à deriva no mundo e parece fadado a um destino ordinário e macilento em Dublin, até fazer valer o vaticínio de seu nome e ganhar asas rumo a um novo destino, onde: “Estava destinado a aprender sua própria sabedoria independentemente dos outros ou a aprender ele próprio a sabedoria dos outros vagando entre as ciladas do mundo”. Além dos êxitos literários logrados com o livro, Joyce ainda livrou a literatura de heróis sensíveis. Finalmente, pudemos contar alguma história de emancipação moral e espiritual sem cair naquela pasmaceira romântica. Os cansativos personagens que povoavam as histórias de antanho, onde mocinhos trilhavam rudemente suas vidas e paixões até, que, eram por elas atropeladas, cedeu lugar a uma personalidade autodeterminante. Stephen Dedalus se reinventa. Lança-se em busca de sua aventura de escritor longe de casa da religião e de seu país. Rebela-se contra seu destino e tece sua própria trama. Uma lição e tanto para esses tempos, onde a vida passou a ser conduzida arbitrariamente, a revelia de seus entes, aos ditames da moda.
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