A CULTURA TAMBÉM COSPE

Dedico este texto a uma grande influenciadora, que já me emprestou tanto material, tanta revista.. não posso me esquecer dela, Luciene Aguiar Oliveira.
Alô? Aqui é Teo. Com esse espaço a meu inteiro dispor, é com tristeza que escrevo sobre o passamento do maior ator deste país, Paulo Autran, 85. Morreu há exatas 3 horas. Li o óbito, assinado pelo Dr. Riad Younes. Dele (Paulo) pode-se dizer o mesmo que se disse sobre um jornalista de renome da society carioca, finado Zózimo Barrozo do Amaral. O editor disse assim: “Morreu o jornalista que tratava a todos bem, mas se tratava mal”. Zózimo fumava muito, morreu de câncer. O mesmo problema de Autran. Creio que no trato pessoal, Autran tratasse muito bem as pessoas, quero dizer, o público, com sua interpretação que foi uma glória para o Brasil. Seu talento já era uma forma de cortesia para com aqueles que o valorizavam, como eu. Infelizmente, não tive a oportunidade de vê-lo representando. Paciência. A última peça dele é um texto que já li, de uma tal Edições Jakson – antiqüíssima – chamado O Avarento, comédia do francês Jean-Baptiste Molière. Foram, ao que me consta, 90 peças feitas. Participou também de um dos mais discutidos filmes brasileiros, do nosso amigo Glauber Rocha, Terra em Transe, com Danuza Leão, sra. Wainer. 1967, salvo engano (confirmem para mim, por favor). Mas suponho que ele fazia pouco da sua carreira na televisão e no cinema. Paulo Autran amava, de verdade, um palco, o que já serve de estímulo para pessoas como eu.
Não estamos em condições de perder, sem mais nem menos, gente como Paulo Autran. A cultura do Brasil já é uma coisa tão rala, tão pouca, tão... que é o cúmulo perdermos um mestre como ele. A passagem no panorama da cultura nacional, ou melhor, de um pepino que houve há mais de 40 anos, envolve seu nome.
Não foi qualquer mal-entendido. Foi uma baixaria que marcou uma geração. Ele pertencia a uma companhia, chamada Tonia-Celi-Autran, e ele não ficou prestando quando Paulo Francis começou a espinafrar por escrito d. Tonia Carrero, esposa de Celi. Isso porque Autran era extremamente ligado aos colegas, e não admitia que uma dama, uma amiga, fosse tão violentada daquele jeito. Tonia, coitada, fazer o quê? Autran, e Celi compraram a briga e o pau comeu. Os três resolveram os ataques no tapa. Paulo Autran cuspiu tudo o que tinha, na cara de Francis e jamais se falaram. O jornalista disse mais tarde, num gesto de extrema nobreza, que se arrependeu das críticas, pois elas atingiam a pessoa Tonia Carreiro e não a atriz. Na época dos artigos, alguém foi falar a Francis: “Mas, meu amigo, Tonia tem uma beleza de primeiro mundo”. De fato. Tonia era lindíssima. Francis retrucou: “Uma beleza de primeiro mundo, mas um talento de quinto”. Essa foi das menores. Só não escrevo as que eu sei aqui porque não é necessário. Igor Luzz chamaria de “constrangedor”.
Está provado então, que a cultura também cospe, provavelmente também feda, também faça xixi, também vomite tal e coisa.
Paulo Autran deixou um país mais pobre, com sua morte, e nós, amantes do teatro (do seu teatro) sentimo-nos como se estivéssemos perdendo alguém próximo a nós, um professor de cabelos já grisalhos e ranzinza, mas sempre apostando na determinação dos alunos, de rapazes novinhos, bobinhos e inexperientes de teatro, da vida e de tudo. Mas estes sempre sonhando com uma posição.
Boa noite.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns, Rogerio S. pelo seu grandioso texto sobre Paulo autran. Confesso que não era fã dele, mas até me interessei em conhece-lo.
Beijos e continue escrevendo