Admitimos e promovemos muitas coisas nesse país, que no discurso diário estamos sempre prontos a condenar. Não aceitamos a corrupção política, essa vergonha, essa nódoa inalterável de nossa história. No entanto, não nos constrange, nem um pouco, fraudar a declaração do imposto de renda; receber um benefício que não nos cabe; vender ou comprar um trabalho acadêmico; roubar livros das escolas públicas - pratica frequente de nossos mestres; comprar CDs e DVDs no mercado paralelo. Dispor-se a maquiar uma licitação ou molhar a mão de uma autoridade pelo perdão da falta, não cora ninguém. Estimulados por uma desavergonhada força que anima nossa sociedade, essas e outras formas de ilegalidades são toleráveis, admissíveis e apropriadamente aceitas. Na verdade chego a pensar que elas dignam muitos homens. Fica cada vez mais difícil distinguir o corrupto e o corruptor no vale-tudo desmedido da vida social. Qualquer pessoa, desde a mais tenra idade, se sente desobrigada a fazer, diante de tanta vergonha, o que é certo, justo e realmente correto. Ninguém suspeita, porém, que essas e, outras ações injuriosas, minam qualquer sonho de progresso, e que, ao contrário do que se imagina, não será a indiferença às pequenas vilanias cometidas pela população diariamente, a resposta aos maus atos dos nossos representantes.
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