28
de
agosto
Mais um dos meus fotógrafos prediletos ou como apanhar lições observando.
Entre outros tantos
aliados, a luta contra a segregação racial nos EUA, contou, com o contributo
estimável da fotografia. Um dos nomes incontornáveis nessa trincheira, foi o do
fotógrafo Gordon Parks. Morto em 2006, ele deixou uma série de registros
fotográficos da vida cotidiana de negros americanos, que ajudaram os Estados
Unidos e o mundo, a reconhecer que: há vilanias humanas, que desmentem nossas
mais nobres pretensões de superioridade sobre as bestas.
Passados tantos anos, suas fotos continuam a nos inquietar. Ao observá-las, rendemo-nos ao fato de que, as fotos não são, como disse, Susan Sontag, impessoais. Elas indiciam “não apenas um registro, mas uma avaliação do mundo”. As fotos de Gordon Parks captam o que Alfred Stieglitz, o primeiro grande fotógrafo americano, chamou de momento apropriado. O momento apropriado, escreveu Susan Sontag, “é aquele em que se consegue ver coisas (sobretudo aquilo que todos já viram) de um modo novo. E o que vemos ao mirar as fotos de Parks é a segregação racial em quadros ultrarrealistas.
Passados tantos anos, suas fotos continuam a nos inquietar. Ao observá-las, rendemo-nos ao fato de que, as fotos não são, como disse, Susan Sontag, impessoais. Elas indiciam “não apenas um registro, mas uma avaliação do mundo”. As fotos de Gordon Parks captam o que Alfred Stieglitz, o primeiro grande fotógrafo americano, chamou de momento apropriado. O momento apropriado, escreveu Susan Sontag, “é aquele em que se consegue ver coisas (sobretudo aquilo que todos já viram) de um modo novo. E o que vemos ao mirar as fotos de Parks é a segregação racial em quadros ultrarrealistas.
23
de
agosto
A festa da Mandioca
Há décadas, o distrito
caetiteense de Maniaçu celebra as suas raízes. Raízes aqui não é mero adorno
linguístico, impresso apenas para sugerir identidade e pertencimento. O sentido
da palavra vai além, e toca o seu referente. É que Maniaçu cresceu e prosperou
em torno do cultivo de um dos mais importantes alimentos brasileiro herdado dos
índios: a mandioca.
Vai daí que esse
tubérculo está, intimamente, ligado às origens do lugar. Foi em volta dele que
famílias inteiras cresceram e que o lugar tornou-se referência no cultivo e
manufatura dos vários produtos ligados à mandioca. Por esse motivo, o distrito
da “mandioca grande” - essa é a tradução livre do nome indígena do lugar –
realiza, todos os anos, um festejo que lembra à comunidade a fonte de sua
origem.
Esse ano, o evento
contou, mais uma vez, com a colaboração das escolas locais. Como é habitual, os
colégios municipais Zelinda Teixeira e Nunila Ivo estiveram presentes e
ajudaram a compor o desfile que coloriu o distrito. Abaixo alguns dos meus
registros fotográficos do festejo. Cliquem na imagem e acessem o site.
P.S. Registro aqui
também o meu agradecimento especial aos alunos do colégio Tereza Borges de
Caetité que gentilmente me permitiram tirar todas as fotos quanto eu imaginasse
deles, sem nenhuma reserva. Obrigado aos alunos pela confiança.
21
de
agosto
Diálogo é a solução.
Foto: René Friede: Prisca, 1999
Notícias como está, estão se tornando
perigosamente frequentes. Está evidente que vivemos um clima de guerra nas
escolas. O stress, as cobranças, os compromissos, as frustrações e um sem-número
de problemas sociais, torna o lugar que deveria ser o mais agradável do mundo,
um campo minado, onde não se estar tranquilo para aprender.
Nessa guerra todos perdem. É inadiável,
portanto, repensar a escola que estamos construindo. Nela, os jovens precisam
entender que há melhores meios de resolverem os seus conflitos. E a escola
precisa saber lidar com os dilemas juvenis, mediando os embates e construindo
fóruns permanentes de diálogos que mitiguem possíveis choques nas relações
entre professores e alunos.
Ninguém está livre do problema, nenhuma
escola está imune as deformações sociais que todos os dias alteram os rumos da
educação no país. É preciso portanto nos municiamos de coragem e solidariedade
que são as únicas armas capazes de contornar os dilemas escolares. Eu acredito,
mesmo contra todas as evidências, que a escola ainda é o melhor lugar para
construir o futuro.
15
de
agosto
Nos ajudando a desafiar o futuro
Foto: Rogério Soares Brito. Visita a Contendas, agosto de 2015
Para melhor dominar um povo,
escravizá-lo mesmo, há que sugar-lhe a memória, e, desse modo, eliminar-lhe a
identidade. Chamamos a isso desmemoriação.
Suas maiores vítimas, são os jovens. Seduzidos por um discurso fundado em
aparências e promessa de juventude eterna, ao preço de ilusões cosméticas pagos
a prestação, eles se deslumbram dia a dia com o novo, e viram as costas aos
mais velhos. Por conseguinte, enfraquecem a sua identidade e assumem postiças
formas de atuação no mundo. Interferir nesse aniquilamento das identidades é dever
de todos nós que pressentimos que há valores na nossa comunidade e que eles são
imprescindíveis.
Foi pensando nessa reação contra a desmemoriação e na valorização dum patrimônio
de saberes que enriquece a nossa identidade, que visitamos a comunidade
quilombola de Contendas, na última quarta-feira, com os alunos do colégio
Zelinda Carvalho e Nunila Ivo, todos pertencentes ao distrito Caetiteense de
Maniaçu. A visita foi uma iniciativa da professora Marili. No comboio estiveram
também presentes a vice-diretora Vânia David e o professor João Chaves.
Ouvindo atentamente as vozes do passado,
as crianças aprenderam que o sistema de vida que conhecem são distintos
daqueles que os precederam. Naquele a franca hospitalidade, os comeres, as
crenças, as festas, os costumes, as roupas, os gestos e tudo o mais, alicerçavam
um modo de vida, que hoje vai se esfumando nos sentimentos egoístas e
individualistas desse admirável mundo novo. Impostos por um sistema demolidor,
das memórias do tempo em que a vida tinha valor sentimental, e onde as
tradições falavam mais alto do que o poder corrosivo do vil metal, vivemos
transformações que não sabemos bem onde vão dar.
Em tempo, as crianças ainda puderam
perceber que é um equívoco negar a importância de nossos velhos. “Haverá sempre
lugar” escreveu Edson Carneiro, “para o eterno” explicando que o advento da luz
elétrica não aboliu o uso da vela, e nem se tornaram obsoletas as canoas e as
jangadas com o surgimento dos transatlânticos. Antes, essas novas invenções da
modernidade, trouxeram ao homem novas maneiras de seguir a vida sem, no entanto,
superar em definitivo as criações das tradições.
Assim como a vela nos socorre quando
todo o aparato moderno de iluminação falha, os velhos são nossas referências na
escuridão do mundo tecnológico e ultramoderno. Sem eles nos desorientamos. Sem
eles todo
um conjunto de manifestações e expressões de natureza intangível, que nos dar
norte e nos auxilia a desafiar o futuro, se arruínam, e comprometem a nossa
jornada pela vida.
Foto: Rogério Soares, Contendas, 2015
Foto: Rogério Soares, Seu Geraldo, Líder comunitário de Contendas-Caetité: Bahia
Marcadores:
Brasil,
Cultura Popular,
Identidade,
Memória,
Tradições
A Indiferença
Foto: John Filo, 4 de maio de 1970. Jeffrey Miller, 20 anos, estudante,
morto pela Guarda Nacional Americana, durante um protesto contra a decisão de
Nixon de enviar tropas para o Camboja.
As fotografias têm muitas qualidades.
Elas podem ser belas, ternas e guardar a memória de momentos inesquecíveis.
Serão sempre felizes os álbuns de famílias, onde as pessoas parecem viver em eternos
festins. Noutro extremo, as fotografias, também estão dispostas a recordar à
humanidade a brutalidade e a selvageria que esse mesmo homo ludens é capaz de perpetrar, entre um banquete e outro com a
família.
Em Diante
da dor dos outros, Susan Sontag argumenta baseando em vastas evidências, que
vai desde “Os Desastres da Guerra”, de Goya, até aos documentos fotográficos da
Guerra Civil americana, dos linchamentos de negros nos estados americanos do
Sul, das Duas Grandes Guerras, da Guerra Civil espanhola, dos campos de extermínio
nazi e das imagens contemporâneas da Bósnia, Serra Leoa, Ruanda, Israel e
Palestina, bem como do 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque, que as imagens também
podem, provocar dissenções, incitar à violência ou criar indiferença ante um
público acrítico.
“As
imagens, qualquer que seja a sua natureza, são elementos importantíssimos para
o acompanhamento do processo histórico, assim como para a construção do
discurso histórico. No caso particular das guerras havidas, pinturas,
fotografias, imagens televisivas ou fitas resultantes de vídeos amadores, têm
sido contributos relevantes para o seu conhecimento, análise, interpretação e
reflexão. Mas em torno destas mesmas imagens, sobretudo as televisivas, algumas
questões se podem levantar, nomeadamente no que concerne à banalização do
sofrimento. À banalização do sofrimento dos outros, que poderá rapidamente
transformar-se na banalização do nosso próprio sofrimento.”
Com os médias excretando tanto horror,
as fotos das barbáries se potencializaram. Chegam-nos a todo instante imagens e
mais imagens de todo o mundo. Sabemos o que acontece todos os dias em todos os
lugares. No meio do jantar assistimos apáticos a execução brutal de seres
humanos em qualquer bar de alguma periferia no país. E antes que a comida
alcance o estômago, novas imagens de horror, rapidamente substituem as chacinas
pelas execuções de prisioneiros de guerra. Os modos de aniquilamento são tão
diversos quando as guloseimas dispostas na mesa do jantar.
A falta de pudor dos media e, em
especial, da televisão, recupera tempos ominosos, que julgávamos ultrapassados.
E na busca pela audiência eles não nos poupam da visão de horror e buscam os
ângulos mais nauseantes das piores carnificinas.
Tratar a dor alheia assim com tanta
indiferença, leva-nos a banalização da mal e como consequência anestesia a
nossa sensibilidade às necessidades do outro.
14
de
agosto
Juventude: a oitava maravilha.
Foto: William Klein.
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Em Hamlet, Shakespeare escreveu no Ato
II cena I “...como é normal que a sensatez falte aos mais moços...”. Isso há
cinco séculos. Vivesse hoje, o bardo inglês teria carregado no adjetivo e
pintando de tintas mais forte a insensatez dos mais jovens. Eles são facilmente
sugestionados por qualquer coisa que, os estimule os instintos mais baixos. Se
deslumbram e caem de amores, as vedetas mais estéreis, e estão antes, mais
dispostos a virarem as costas aos pais e professores, do que dar ouvidos a quem
lhes têm maior consideração. Inflamam-se com insignificâncias e estão sempre
animosos contra os que julgam os cerceadores de suas vontades. Quem os ouvem falar pensa que eles jamais frequentaram a escola. Estão, no entanto, seguros que
assim mesmo, terão assegurado o melhor dos mundos possíveis para viver no
futuro.
13
de
agosto
Tornar as coisas ordinárias
Foto: Armando Jorge, Portugal Rural, 2015
.
Há dias vi um registro fotográfico dos
mais brutais. Tratava-se de um mergulho profundo nas mazelas vivida, por uma
parcela significativa da população portuguesa nos dias atuais.
Em pleno século XXI, nas zonas rurais do
país que colonizou o Brasil, vivem milhares de despossuídos. A despeito das
muitas virtudes, Portugal, lamentavelmente, ainda é um país pobre e injusto. E
foram estes despossuídos e injustiçados, que o fotógrafo Armando Jorge, revelou
num trabalho intitulado: Portugal Rural.
Muitos foram os que comentaram os registros
do fotógrafo no facebook. Chamou-me porém, a atenção, o fato de que a grande
maioria dos comentários, passavam ao largo da visão reveladora das péssimas condições
de vida, de parcela de portugueses, que amargam as piores condições de vida que
um ser humano pode suportar.
Muitos mais foram aqueles que ficaram
embeiçados pelo desempenho da câmara, pelo apurado enquadramento das paisagens,
e pelas estéreis virtudes da técnica fotográfica mostradas pelo artista... O
que significa que há quem apenas se preocupe com frivolidades e deixe que
aquilo que é verdadeiramente importante lhe passe desapercebido.
A qualquer um, com alguma sensibilidade,
saltaria aos olhos as evidências revoltantes, das vergonhosas condições de vida,
impingida aos muitos portugueses, que vivem à margem das benesses do poder. Mas
aos olhos dos basbaques, que povoam o facebook e vivem as mídias eletrônicas e
os aparelhos tecnológicos com devoção, não lhes parecem anormais que homens e
mulheres esfarrapados ainda façam parte do cenário social.
A estilização tecnológica redimiu da carneirada
todas as inquietações e arrefeceu as mais dolorosas constatações.
Foto: Armando Jorge, Portugal Rural, 2015.
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