Raramente discuto política. Aprendi que
essas discussões têm o desagradável efeito de provocarem, em quem nelas se
envolve, uma pane instantânea na inteligência que, faz suspender o bom senso
nuns, espumar as bocas noutros e provocar espasmos, semelhantes aqueles dos energúmenos
tomados pela violência e o desequilíbrio. Desenganei-me de mais essa vaidade. Quando
por acaso uma dessas discussões encontra o meu caminho, salto da calçada à rua
e vou parar no outro lado, onde o passeio permite livremente que se suba ou
desça, sem ter que dá com quem atravanque o caminho, com a boca ameaçadoramente
babando certezas.
28
de
novembro
Em que desejas falhar?
Encontrei dia desses, um velho amigo,
que há muito tempo não via. Dividimos um apartamento, enquanto esperávamos que
a vida, não nos derrotasse, antes de sermos devidamente diplomados pela academia.
Chegamos lá e depois disso os nossos caminhos se bifurcaram. Ele agora é
professor, creio que dos bons. Em meio as alegres lembranças, que nosso reencontro
provocou, ele sorriu e me disse que dia desses lembrou-se de mim em uma de suas
aulas. Retribui o sorriso e o ouvi, franzindo o cenho, como quem rumina os pensamentos
quanto é tomado por uma inquietação. Meu amigo disse-me que falava aos seus
alunos que, enquanto vivia os tempos da universidade conviveu com um amigo -
batendo no meu ombro - a quem deveriam todos inspirar-se. Antes que pudesse
terminar a mesura, emendei a pergunta: “Servir de inspiração? Eu? Talvez. Em que
desejas que os seus alunos falhem?”
27
de
novembro
Perguntas cujas respostas fazem pensar que o mundo é uma laranja podre.
Por que ao invés de bombardearem os alojamentos
do ISIS, encravado no coração das cidades Sírias e Iraquianas, povoadas de
gente inocente, a coalizão internacional não manda as suas bombas cirúrgicas,
sobre os caminhões que, contrabandeiam petróleo e alimentam assim de recursos o
exército de lunáticos?
A verdadeira política nacional
O Ministro Levi vai ao Congresso,
conversa com os políticos e dá entrevista à televisão. Quer mais dinheiro para
salvar o governo. Espera fazer isso criando mais impostos. Não foi suficiente
aumentar a gasolina, a energia, os juros... Quando acabar, este Governo será
lembrado, como aquele que enterrava as suas mãos tão fundo nos bolsos do povo
que o fazia se sentir apalpado. Tenha dó governo não somos artista para andares
metendo a mão aonde não gostaríamos que metessem, alguma dignidade ainda nos
resta.
A verdadeira política nacional
Delcídio do Amaral é preso e o PT no
Senado, a despeito de todas as evidências de que estivesse embaraçando as
investigações da Lava-Jato, vota a favor de sua soltura. A oposição, formada
por muitos demagogos, na contra-mão do "partido da moralidade" (duvidosa),
pede a continuidade de sua prisão. O mundo é mesmo uma laranja podre. Mais
vodka, por favor.
22
de
novembro
Teimar em não perder
.
Uma menina, que anda na casa dos 15
anos, se recusou a fazer uma apresentação, lá na escola, só porque tinha que usar
uma saia. A saia, segundo ela julgava, a deixava velha. Parecia-lhe um
disparate usar uma saia abaixo do joelho em cores vivas e esvoaçante. Ninguém
foi capaz de lhe fazer pensar o contrário. Ela estava certa do que era moda e
do que estava mais adequado a uma jovem de sua idade. As ameaçadoras saias a
faziam pensar em ser alguém que, como vemos, não lhe agradava muito pensar em
ser.
Esta jovem aluna não está só em seus
pensamentos. Ela age assim porque a própria sociedade se converteu a ideia de
que ser jovem é um fim que todos devem perseguir. Já agora temos visto adultos
que se comportam como adolescentes. Os custos dessa mentalidade juvenil, estamos
todos vindo a contabilizar em abandono, daqueles que um dia nos serviram a
comida ao prato, nos acalentaram nas noites enfermas e desafiaram o futuro, renunciando
o seu presente, a nosso favor.
Hoje, quando são os velhos a nos esperar
a renúncia, em retribuição a sua entrega, voltamos as costas e ignoramos a sua
presença. Projetamos uma sociedade em modelos juvenis, fingindo que a juventude
não uma é fase transitória. Relutamos em acreditar que, um dia nós mesmos
seremos velhos. Fazemos isso rejeitando tudo o que nos possa lembrar que, a
vida passa por fases e que elas nos leva a estágios que precisam serem
superados para nos erguermos dignos, e mais conscientes, ao próximo posso na
concretização de nossa existência.
Precisamos de uma sociedade com adultos
sérios e não com eles com aparelhos nos dentes e chicletes na boca. A juventude,
também, precisa saber que os velhos de hoje foram os mesmos que um dia lhes possibilitaram
a existência (só por isso eles já deveriam ser honrados), e que amanhã, eles
(os jovens) serão, se não mudarem de comportamento, as vítimas dos monstros que
abandonam e recusam os seus melhores exemplos de humanidade.
Não podemos acolher a ideia de que o
centro do mundo está nos 15 anos. Nessa idade pouco sabemos e não será nela que
devemos esperar as respostas as inquietações e dúvidas da vida. Então por que
seria ela o lugar onde gostaríamos de perpetuar o que teimamos em não perder?
20
de
novembro
Factoide
O país passaria melhor com um décimo das
notícias. É inacreditável o que se ouve, vê e lê nos médias. Quem busca
informações hoje está sujeito a encontrar de tudo, menos o que se procura. Uma
verborragia, entulha os canais e fazem da imprensa um lugar sofrível. Ninguém, que assista um jornal, leia uma revistas
ou ouça o rádio, pode mesmo se julgar informado. Os médias agem, através de uma
lógica, que transformam as notícias, em grotescos espetáculos circenses, que só
aos acéfalos agradam.
O que menos importa parece ser a noção
de que o público vai à impressa, porque deseja ser informado de algum coisa que
lhe escapou e lhe interessa saber. São para isso que servem os média, trazer ao
público informações. Mas as mídias abdicaram desse papel, e não se prestam mais
a investigação dos fatos, não questionam nem contradizem os relatos, e não se preocupam
com o contraditório. A impressão que se tem, é que o jornalismo se vulgarizou e
se rebaixou a tal nível que hoje, fica difícil distinguir entre um jornalista e
um animadora de torcida.
A mídia, faz de um tudo para manter o
público entretido, quando o público só queria mesmo, era saber se vai mesmo ser
necessário sair de casa carregando o guarda-chuva, ou por que o político patusco, que
fingiu não possuir contas no exterior, ainda não encontrou o caminho da prisão e está presidindo um importante órgão da
nação?
Tornou-se intolerável acompanhar as
notícias. Dia desses, por exemplo, a cidade em que moro, foi mais uma vez
vítima de um bárbaro assalto a banco. Não costumo ouvir rádio, porque as vezes
em que tentei, acabei mais aborrecido do que informado. Além disso não suporto
as músicas que colonizaram esse veículo, soam-me detestáveis. Mas, curioso em
saber mais, sobre o que havia acontecido, de fato, no banco, corri ao fone de
ouvido do celular e pluguei-me na primeira emissora de rádio que me apareceu.
Deve haver umas 3 ou 4 por aqui. Mesmo suspeitando que, não encontraria muita
informação, insisti na ideia de me informar, consultando o jornal do meio-dia
que, segundo soube, tem audiência cativa dos ouvintes da rádio.
Do pouco que pude ouvir, entre os gritos
histéricos do radialista e uma sirene bizarra que berrava incessantemente, a todo
instante, enquanto ele falava (gritava), não foi mais do que o padeiro havia me
dito horas antes, ou fui ouvindo pela rua e no caminho ao trabalho. Tanta parlapatice serve apenas ao propósito de não informar o ouvinte. Em meia
hora de rádio, não apurei nada que pudesse acrescer às informações, que a população
retransmitia em viva voz por intermédio do troca-troca de conversas que dão um
colorido todo especial aos dias das cidades provincianas.
Não foi pelo rádio que soube que os
bandidos malograram o assalto, também não foi pelo rádio que, fiquei a saber
que esse foi mais um caso em que a polícia não tem a menor ideia de quem possa
ser os assaltantes, ou o paradeiro dos delinquentes. Convenhamos, as notícias
mais relevantes chegam-nos muito mais detalhadas e bem mais integras pelas
comadres que se aprazem em reportar os casos que vão ouvindo nos comboios de
ônibus, do que são apuradas nas redações de jornais e nas cabines de rádio.
19
de
novembro
Apalpar mais e confiar menos
.
Parece-me que a todos é suposto saber, o quanto
de perverso, maldoso e fingido, pode ser uma pessoa. Devo essa impressão, muito
a Lombroso, famoso médico italiano que julgava o caráter de uma pessoa apenas
medindo a regularidade do crânio e a simetria dos traços faciais. Outro médico,
dessa vez alemão, também desenvolveu uma teoria similar à de Lombroso. No
século XIX, o médico e anatomista Franz Gall, acreditava que podia desvendar a
personalidade de uma pessoa através da simples palpação das saliências da
cabeça de um indivíduo. De repente, percebo, meio envergonhado, que não ando
empregando os sentidos corretos para julgar os que me andam à volta.
O riso da besta
Aceito a ideia de que o homem é um ser
bom. Há tempos optei por acolher essa tese, mas os dias e as ações humanas
têm-me feito pensar em jogar a toalha. Experiências nada animadoras atiram-me, cotidianamente,
à cara, mil motivos para desistir de aceitar o que já me parece uma alucinação.
18
de
novembro
Há 72 anos nascia Manuel António Pina
.
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de
conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não
devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
[Amor como em casa, in "Todas as
Palavras", Assírio & Alvim]
17
de
novembro
As coisas pelo nome que me escapam
Não sou grande conhecedor de árvores. Definitivamente
não sirvo para botânico.
Faltam-me atributos, para reconhecer uma
árvore pelo nome. Pesa-me enormemente a ignorância das coisas simples. Mas se é
verdade que, ignoro os nomes das árvores, e que me pesa a culpa de não lhes
saber os nomes que o povo lhe dão, escapo a todas as faltas, sabendo que, não
me falta sensibilidade, para admirá-las pela beleza. E como são belas as
árvores que me surgem.
Crescem nos caminhos que me levam ao
trabalho, em meio a vegetação queimada pela inclemência do sol desses dias, umas árvores que,
como já disse, me fogem os nomes. Mas estão tão belas pelas margens e ermos que,
não me deixam indiferentes às suas insinuantes cores: vermelho carmim, roxo
vivo e amarelo ouro. Já há muito desisti de tentar adivinhar-lhes os nomes. São
saberes do povo e a eles pertencem.
A mim hoje me basta saber que, lá estão,
estendidas, heroicamente nos descampados das terras feridas pelas mãos humanas.
As brutas mãos humanas. Até quando resistirão, exuberantes e coloridas? Quantos
outros, elas ainda farão esquecer-se do labor diário, só por estarem a lhes
contemplar as formosuras quando passam por elas?
13
de
novembro
Das coisas que gostaria de ter escrito
Não
é para qualquer um assumir-se anti o que quer que seja. Ser-se anti não é
apenas assumir-se uma posição contrária a, é ser-se pela negação do objecto que
se despreza, é colocar-se numa posição de cegueira e de ódio. A ser anti
qualquer coisa, eu seria, desde logo, antianti. Mas sem ponta de cinismo posso
afirmar que sou anti-racismo, antimachismo, sou anti-homofobia. Pouco mais. Até
a estupidez eu consigo admirar em certas circunstâncias, e frequentemente me
rio de certas misérias alheias. São poucas as coisas no mundo, sobretudo as
humanas, que me merecem desprezo. Adoptei o espírito do romântico e idealista
Novalis. No mundo das ideias, aceito tudo e o seu contrário. Os opostos
desafiam-me, não me inspiram ódios. As antinomias, os maniqueísmos,
estimulam-me. De que me vale ser anti-nazismo? Não sou. O nazismo existe, tento
compreendê-lo, esforço-me por estudá-lo para poder contradizê-lo. Não o aceito,
mas não lhe tenho ódio precisamente para que nada de mim se possa rever nessa
abjecta ideologia.
Via Antologia do Esquecimento, o blog do Henrique Manuel Bento Fialho.
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Política
É que Narciso acha feio o que não é espelho.
.
.
Interessa-me a fotografia. Interessa-me
como enigma, como código que desvela outros por sugestões. Gosto dela quando
indiciam coisas para além do óbvio. Mas em tempos de imagens omnipresentes as
fotografias banalizaram-se. Mais do que ver outras coisas, a fotografia atualmente,
tornou-se um espaço para ver narcisisticamente. Com isso as imagens não apelam
mais à memória ou ao sentido de decifração que a tornava atraente e atemporal.
Hoje tudo já está dado. Esvaziadas de algum sentido simbólico, elas agora não
passam de suportes que, estampam rostos e corpos, empenhados em simular vidas
alheias. Foram assim assenhoradas por aqueles que não entendem por que não
foram parar nas capas de revistas do jet
set e estão por isso fingindo estar onde não estão, mas se supõem, pela auto
ilusão das bruxuleantes imagens que reproduzem o que a realidade não foi capaz
de fazer.
Não somos assim tão ingênuos, ou somos?
As pessoas reclamam que o the voice não
tem música brasileira. O que queriam? O programa se chama the voice. Não se
procura comida vegetariana em açougue ou se vai à missa por se ter enganado o
caminho da casa da luz vermelha. Chega-se a estes lugares por opção. Portanto,
se querem mesmo ouvir música brasileira, vão aos sítios aonde elas são prestigiadas e
não estejam ingênuos aos programas da tevê brasileira, eles estão todos muito
ocupados em os bestializarem e não têm tempo de ouvirem os seus queixumes.
Mansos cordeiros
Mark Twain disse que: "há três
espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as
estatísticas". Fosse ainda vivo e tivesse morada no Brasil ele,
seguramente, incluiriam ao rol dessas mentiras, uma outra. A mentira Eduardo
Cunha que, se caracteriza, não por ser engenhosa ou mirabolante, mas por se
valer da crença de que, todos são parvos e, por essa razão, estão dispostos a
aceitarem uma farsa como verdade, apesar de todas as evidências em contrário. Embora
sejam os políticos quem nos governe, não é deles que devemos esperar remédio e
salvação para os nossos males, está bem visto, mas de nós próprios que, devemos
cultivar uma consciência social que se negue a aceitar o escárnio e a
delinquência como coisas normais.
As escuras
Foto: Albert Watson - Charlotte Arizona, 1988.
Minha mulher me censura a nudez que veja nas fotos de blog de fotografia. Sou forçado a cerrar as pálpebras e fingir que não vejo. Dentro da cegueira vejo ainda melhor que, se olhasse em direto as imagens que me vão surgindo ao redor. Mas ela não dá por isso. Tanto melhor. Assim, mesmo as escuras, sou mais livre.
Amigos
O bom de ter amigos - de verdade - é que
eles não precisam de empurrões das efemérides para sentirem que você é importante.
Eles podem estar distantes de você, mas ao andarem por aí, talvez em São José
do Rio Preto, sintam a sua presença nas coisas que vão vendo e de repente se
lembrem, de que aquilo que vão encontrando pelo caminho, talvez pudesse lhe
agradar, pois sabem como poucos aquilo que lhe cativa. Foi isso que se deu com
a minha amiga Cléo, que em viagem ao interior paulista encontrou-me numa loja de
mimos, entre os motivos fotográficos, cinematográficos e literários que estavam dependurados nas estantes. Cléo, obrigado por estares aí, por ligares e
perguntares por mim como quem quer realmente saber.
Peçonhentos
Desejo sempre que os políticos mordam a
língua quando falam. Estou com isso querendo que eles inoculem um pouco de seu
próprio veneno e sintam o quanto são peçonhentos.
12
de
novembro
Passageiro da agonia
Frame: Filme O Senhor das Moscas
.
Todos os anos vou duas ou mais vezes ao
Goiás. Minha mulher tem parentes por lá. Gostamos de estar entre eles. São
queridos, e muito caros aqui em casa, todos. Por isso, sempre que nos resta uma
folga, ou quando se avizinham as férias, corremos à terra de Cora Coralina, só
para estar entre aqueles que mais queremos bem. Nessas visitas, aproveitamos a
ocasião para passear pela cidade e flertar com as livrarias que, abundam no
centro. Mas sair pela cidade, em determinadas horas e locais, tem se tornado um
desafio que exige esforço e nervos sobre-humano. Algo, que descobri na última
viagem, a duras penas, não possuir.
Num sábado de folga dos deveres
domésticos, e já um tanto cansado da rotina de casa, sai com minha mulher, suas
duas sobrinhas pequenas, e minha comadre, que vive fora do país e vem todos os
anos passar as férias conosco. Fomos ao shopping Flamboyant que fica no centro
da capital goiana. Lá encontro sempre alguma promoção na FNAC ou na Saraiva,
que são primores de livrarias. Depois de horas percorrendo os livros, resolvemos
retornar ao lar, dado o adiantar das horas e a fadiga das crianças. Foi aí que
saímos, inimaginavelmente, de uma realidade comezinha dos passeios
familiares, para cair numa página de horror que bem poderia ter sido escrita
por William Golding ou Anthony Burgess em alguns de seus livros despóticos
sobre a raça humana.
Quando saltamos para dentro do ônibus,
que nos levaria para casa, não imaginávamos que no ponto seguinte, ainda em
frente ao shopping, viveríamos as piores horas de nossas vidas. De repente,
quando o ônibus parou para dá lugar algumas pessoas, que deram sinal no ponto,
fomos assaltados por uma horda de jovens, rapazes e moças, com idade entre 14 e
16 anos, não mais do que isso, que invadiram o ônibus forçando as portas e
intimidando, aos gritos e socos na lataria, a todos que estavam ali dentro. Aterrorizados,
passamos de passageiros à reféns, daqueles delinquentes juvenis, durante todo o
percurso do Flamboyant até o terminal Praça da Bíblia, ponto de baldeação no
transporte público de Goiânia.
Entre gritos de “Ohhh!!!!! horrrorrr!!!!!
É o bonde do terrorrrrrrrr!!!!!!” e outras bestialidades musicais que bem
agradam a mentalidade doentia da nova geração, os menores passaram a arrancaram
as luminárias do ônibus e com destreza de quem já há muito tempo pratica a
mesma ação, abriram com desenvoltura as portas traseiras do ônibus, mexendo no
mecanismo hidráulico que fica acima das portas. Com as portas escancaradas eles
passaram a surfar, literalmente, sobre as luminárias, fazendo um estrepitoso
barulho no asfalto enquanto o ônibus corria à noite Goiana. O motorista, refém como
nós dos delinquentes, não esboçou nenhuma reação aos delitos juvenis. De dentro
do ônibus os poucos passageiros que, não faziam parte daquele circo de horrores,
se entreolhavam atônitos com tamanha estupidez. Acuados
ficamos todos estupefatos com a ousadia e desrespeito daqueles jovens.
Entre o trajeto do pânico e a chegada ao
Terminal Praça da Bíblia foram minutos, mas pareceram horas. As tenebrosas
bestialidades juvenis nos fizeram saltar no terminal e seguir viajem em outro
meio de transporte. Antes que a situação pudesse se complicar ainda mais, nos enfiamos
no primeiro táxi que avistamos e largamos para trás os circo de horrores que
aquelas crianças perpetravam. Depois da experiência macabra de ver tantos jovens
se comportando como primatas, não quisemos pagar para ver aonde aqueles
delinquentes poderiam no levar.
A perturbadora cena de selvageria que
testemunhei naquela noite, me fez perceber que tocamos, definitivamente, o
fundo do poço. O inalcançável mostro da desumanidade não é mais uma personagem
de ficção cientifica a nos espreitar na tela do cinema ou nos acossar nas
páginas de um livro. Ele temerariamente saltou essa barreira, e não podemos nos
considerar desavisados, nem desentendidos dos horrores que a juventude de hoje
vai maquinando. Há um bom tempo correm noticias de que ela anda desgovernada, assim como a sociedade que a gestou. Tanta bruteza e desdém pelo semelhante são sintomas de uma comunidade falhada que abandonou o seu futuro por não haver encontrado esperança no presente.
Por todos os cantos há sinais de que a
vida em sociedade vai mal.
10
de
novembro
Um dia para esquecer
Naturalmente todos podemos viver maus
dias. Como o contrário também é verdade não temos porquê nos desesperarmos. Seria tão bom nos convencermos rápidos de que a vida é assim e assim devemos vivê-la, indiferentes por estarmos, ora por cima, ora por baixo. Mas isso não é tão fácil. Aprendemos a duras penas
que, não estamos tão imunes as circunstâncias que as impeça que, de vez em
quando, elas se assenhorem de nossos melhores dias, metendo-o de cabeça para
baixo. Não se trata aqui de questão de escolha. Por vezes somos joguetes do
destino. Quando ele não nos favorece, somos abatidos por algum desânimo e somos
forçados a aceitar que nem tudo vai bem. Paciência. Nestas horas o que nos
resta é querer que o dia se encerre, logo, ou que uma volta na roda da fortuna
nos leve bem rápido para um lugar onde as tristezas, não rocem tão ameaçadores o
fundo do poço.
9
de
novembro
Um bocadinho limitadora
.
.
São muitos os felizes que vêem a
política sem matizes. Mansos, se deixam guiar pelos que lhes seguram as rédeas e
estão certos de que ter lugar é estar à esquerda ou à direita do mundo. Fora
disso, pensam, só há o muro, ou melhor, o em cima do muro. Isso tudo, é o muito
que se podem admitir de lugares. Não lhes ocorrem que, fora dos polos, além dos
extremos, ou longe dos muros, possa existir um outro lugar pra pensar.
Tomar posições, fincar bandeira, limitar
espaços é o que os fazem felizes e lhes alimentam as convicções mais mesquinhas.
Estão certos de seus lugares e de lá querem nos fazer crer que estão com toda
razão. Entendem a política como aquela
senhora do conto Olhar à direita, de
Oliver Sacks, que via o mundo à volta: em banda.
A história é narrado no livro de contos O Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu.
Aos sessentas anos a Sra S., sofreu um grave derrame que afetou as porções mais
profundas e posteriores de seu hemisfério cerebral direito, fazendo com que
perdesse a visão do que lhe estava à esquerda.
“Às vezes”, narra Oliver Sacks, “ela
reclama que as enfermeiras não puseram a sobremesa ou o café em sua bandeja.
Quando elas replicam: “Mas sra. S., está bem aqui, à esquerda”, ela parece não
entender o que estão dizendo e não olha para a esquerda. Se sua cabeça for
delicadamente virada de modo que a sobremesa fique à vista, na metade
preservada de seu campo visual, ela diz: “Ah, está aqui — não estava antes”.
Ela perdeu por completo a ideia de “esquerda”, tanto com relação ao mundo como
a seu próprio corpo”.
Um tipo pode, como aconteceu com a Srs
S., estar acometido de um derrame ideológico e não dar por isso. As ideologias
podem ser um bocadinho limitadoras e no mundo deve haver mais lugares para as
ideias do que os compartimentos ideológicos, delimitados pela direita ou pela
esquerda nos querem fazer supor.
4
de
novembro
Capelistas
Depois do fim das eleições no ano
passado, com o seu insuperável festival de baixarias, mentiras e outras
imposturas, eu supôs que a guerrilha de quarto, já cansada de tanta sujidade e
desmuniciada com o fechamento das urnas, recolheria as suas baterias e faria
sossegar os canhões, apontados às mentes e corações dos incautos eleitores.
Agora podemos gozar horas amenas...
pensei eu... desfrutar os prazeres de navegar pela internet sem ter que dar de
encontro com disfarces ideológicos fajutos, travestidos em torrentes numéricas,
que dizem desmentir (ou mentem ainda mais, não se sabe) o que se supõe
“calúnias” “difamações” e ingerência midiática sem fim. Infelizmente eu estava
equivocado. Mais uma vez a estupidez não deu trégua, e a internet voltou a ser
o palco de bufões alegres, entretidos em trocar acusações.
Entrincheirados em suas posições
ideológicas, esses intrépidos agentes circenses, querem nos fazer crer, antes
gráficos, tabelas, mapeamentos econômicos, variações cambiais e outras
alquimias políticas, sabedores de todas as verdades que precisamos saber, para
ir bem nas escolhas dos dirigentes do povo. Embora pareçam esclarecer, não
fazem mais do que, monocordicamente, ladrar uma fraseologia, que logo se vê de
cara, está subordinada às exigências da tática política à qual prestam
vassalagem.
Passados mais de um ano das eleições
presidenciais não há um único momento em que não deixamos de perceber que a
política, entre outras coisas, é capaz de desmiolar os seus entusiastas e os
fazer padecer de uma certa indigência mental insuperável. Ah! Como seria bom
ser surpreendido em política, com ideias e discursos livres de amarras ideológicas.
1
de
novembro
Bestiário político
"Se
o Lula mandasse eu votar num cachorro eu votava".
A
política e o país são o que são pelas razões que ouvimos num bar à mesa com os
amigos.
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