Foto: Diane Arbus, 1970
.O riso, segundo Bergson tem um papel social. Ele é aplicado em várias situações. Uma delas é contra inadequação de conduta de um indivíduo em relação ao comportamento dos outros. Para suavizar essas tensões é preciso maleabilidade do caráter e adesão à certa “elasticidade que nos dê condições de adaptar-nos ao mundo”.
“Toda
rigidez do caráter, do espírito e mesmo do corpo” nos
diz Bergson “será então suspeita para a
sociedade, por ser possível sinal de uma atividade adormecida e também uma
atividade que se isola, e tende a afastar-se do centro comum em torno do qual a
sociedade gravita, de uma excentricidade enfim. E, no entanto a
sociedade não pode intervir nisso por meio de alguma repressão material, pois
ela não está sendo materialmente afetada. Ela está em presença de algo que a
preocupa, mas somente como sintoma – apenas uma ameaça, no máximo um gesto.
Será portanto, com um simples gesto que ela responderá. O riso deve ser alguma
coisa desse tipo, uma espécie de gesto social”.
Ao cabo de ler esse
excerto, do monumental trabalho sobre o Riso de Henri Bergson, sou tomado pela
consciência de que, não possuo, seguindo um conceito bergsoniano, elasticidade
necessária para integrar-me ao pacto social vigente. E estou, portanto,
sentenciando às fileiras dos homens que sofrerão todo tipo de escárnio em
represália a não adesão “ao centro comum em torno do qual a sociedade gravita”.
É preferível o riso dos
tolos, a aderência a esse mundo de estupidez. Uma virada nas páginas de jornais, uma mirada na televisão bastam para qualquer espírito sensível recusar alinhar-se o que quer que seja nesse mundo. Ante tantas provas de
esterilidade do cotidiano, aderir sem resistência às frivolidades e baixezas de
uma vida contingencial, só para não correr o risco de sofrer com o escárnio dos
patuscos de sempre, é inaceitável. Diante das reais vergonhas que se pode sofrer, ao aderir ao
mundo, o riso alheio é preço muito pequeno a se pagar.
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