NELSON RODRIGUES: PORNOGRAFANDO E SUBVERTENDO (*)


Não vou teorizar mais sobre sua vastíssima obra e sua personalidade ímpar, já que seu nome é um dos mais folclóricos do Rio, cidade que o acolheu e assassinou seu irmão, e sim falar da paixão que sinto por ele e explico: Ninguém precisou me falar que ele era o maior teatrólogo do país. Eu mesmo descobri lendo (e relendo) suas peças. O gigantismo de sua literatura foi apresentado no 4º. e último volume do Teatro Completo – Tragédias Cariocas 2, onde o organizador, Sábato Magaldi (da Academia Brasileira de Letras), além de ter resenhado todas as peças separadamente, reuniu tudo o que se escreveu sobre a morte de Nelson, no fim do ano de 1980, menos de 15 dias depois da morte de Jonh Lennon. Apaixonei-me por todos os depoimentos – veiculados nos seus respectivos jornais – e ali reproduzidos com total exatidão – e pela forma carinhosa com que falavam sobre o morto recente e como aquela geração de brilhantes jornalistas iria sentir a falta da inteligência pulsante de Nelson. Como se acostumar, sem a força de seu talento? Um deles, não me recordo qual, disse se tratar do “maior dramaturgo brasileiro e um dos mais importantes do mundo”. Carlos Heitor Cony lembrava a dificuldade de Nelson, em seus últimos dias, de adoçar a xicrinha de café. Ele escreveu: “Como a natureza é capaz de dotar certos homens de tanta inteligência, e ao mesmo tempo dar-lhe uma saúde tão débil?” O grande Tristão de Athayde falou da inimizade que nutriram e o reencontro três anos antes. “Zuenir Ventura é testemunha do calor com que nos abraçamos. Esse foi um dos dias mais felizes de minha vida intelectual e pessoal”. De Nova Yorque, Paulo Francis dizia que “para os célebres, é bom morrer no Brasil. O morto passa a ser canonizado”. “Não temos tanta gente assim”
Persegui a vida e a obra desse homem por muito tempo e li tudo o que escreveram dele. Pesando os prós e contras, saibam que o resultado é bastante positivo. Além de brilhante teatrólogo, foi o maior cronista do cotidiano e também esportivo de qualquer época. Sobre essa última, suas hipérboles para comentar a simples atitude, a presença de um jogador no campo, são magistrais. Em 1970, a Seleção fora desacreditada para o México, depois da vergonhosa derrota em 1966. Nelson foi um profeta. “O escrete brasileiro voltará campeão do mundo”. Dito e feito. O Brasil ganhou o tricampeonato e Nelson resumiu a alma de toda uma nação vitoriosa. “Somos 90 milhões de reis. O bêbado caído na sarjeta é um rei. As datilógrafas, as colegiais, todos somos reis.”
Além disso, convém dizer que, como Shakespeare, foi um imenso poeta. Não simplesmente um escritor de fatos corriqueiros e banais. Ninguém soube separar o amor das outras bobagens, do que ele. Não interessa a ideologia. Não interessa se hoje ele pode parecer demasiado conservador. O que vale é a profundidade de seu raciocínio e suas certezas definitivas. O homem que era contra a educação sexual (“educação sexual deve ser dada pelo veterinário a bezerras, vacas, cabritas...”), contra a pílula, contra a nudez gratuita, a favor da castidade (esse que era o “grande tarado”...) afirmou, certa vez, o seguinte: “Todo amor é eterno. Se acabou, é porque não era amor. O verdadeiro amor está para além da vida e da morte. Por isso, estou certo de que a pior forma de adultério é a viúva que se casa de novo”.
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(*) Na verdade, esse título é uma compilação de
um livro dedicado a outro grande teatrólogo
- e também maldito – Plínio Marcos, enormemente
influenciado pela obra rodriguiana.

CRÉDITO DA FOTO:

ENTRE PARES
Nelson Rodrigues (de gravata), passando o tempo com Vinicius de Moraes e Otto Lara Resende: “O amigo é um momento de eternidade”

3 comentários:

Geórgia Damatis disse...

"Ninguém precisou me falar que ele era o maior teatrólogo do país. Eu mesmo descobri lendo (e relendo) suas peças".

Jr, que coisa linda o que vc escreveu.

Como vc descreveu bem Nelson e como vc escreve bem...

Adorei!
Bjs!!!

Anônimo disse...

Bom não tive a oportunidade ainda de ler as obras de Nelson, só tenho visto fargmentos, mas com essa narrativa de Teo fica fácil gostar de ler as sua obras, me sentir saudosista por não ter aproveitado melhor o meu tempo lendo as obras dele.
MAs quem escreveu sobre ele nada mais e que o proprio flho, boa sorte Teo vc temturo

Do seu amigo de guanambi

Anônimo disse...

Confesso q não sou um grande fã de Nelsão, mas esse comentário faz a gente ficar curiozo, porq vem de um cara bem informado e grande fã.
Nelson deve estar orgulhoso e tipo, puxa, ainda bem que alguém me entendeu. Ele axou uma testemuinha, que não permite q ele seja chamado de TARADO.