A TRISTEZA


O Flaubert aconselhava a ter cuidado com a tristeza. Cuidado com a tristeza, dizia ele, porque ela pode tornar-se um vício. Eu percebo bem o que ele queria dizer. João Cabral também alertava para os perigos de se tornar triste. E dizia que todos nós, inclusive ele, tinha tendência à sonolência à morbidez e à tristeza. Por isso, era preciso manter-se desperto. A poesia que ele criou, com uma sintaxe paradoxal foi sua forma encontrada para dispersar os vícios da tristeza, que de certa forma persegue todos nós. A tristeza serve para desculpar a inércia e, sobretudo a mediocridade. Obviamente esses senhores das letras tinham toda razão. Menos cuidadoso, no entanto, foi o autor do quadro que ilustra esse post. A gente começa arrancando uma orelha e quando menos esperamos estamos cambaleando pelo campo, varado pela morte.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não acredito que Van Gogh tenha sido descuidado com a tristeza. A tristeza de Van Gogh era antes de tudo uma reação por não ter a sua arte compreendida. E quanto a arrancar a orelha foi consequencia de seu desequilibrio mental. Ele atirou no próprio peito porque perdeu a vontade de continuar pintando e consequentemente perdeu a vontade de viver.

Luciene Aguiar

Tita disse...

Não creio que Van Gogh tenha perdido a vontade de pintar. E talvez a pintura tenha sido a única coisa que o manteve vivo por tanto tempo. Embora hajam controvérsias quando ao seu suicídio.
Há uma versão que diz q na verdade foram rapazes da região que o atingiram acidentalmente e ele não quis denunciar para não prejudicá-los.
Seja de que maneira for, concordo que a gente não deve alimentar a tristeza. Só cresce dentro de nós os monstros que nós alimentarmos.

Pandora disse...

Ontem estive lendo um texto de uma colega minha, ela escreveu algo que tanto dialoga com seu texto como expressa o que ando sentindo, de maneira que vou transcrever: "A gente se acostuma a acordar, levantar da cama e escovar os dentes de uma forma quase que mecânica. Mas, em alguns dias, isso parece uma tarefa hercúlea. A gente deve ter cuidado. Se as simples atividades do dia a dia se tornam mecânicas, a tristeza também pode se tornar. Se a gente se acostuma à ela, deixa ela entrar e ficar. Acostuma a ver todo dia meio nublado. Acostuma a se esconder dos outros. E acaba se escondendo da vida. (Gabriela Corrêa)

Tenho andado mais triste e sonolenta do que devia! #Fato

E amo Van Gogh por instinto e o comentário da Tita me fez pensar pela segundo vez hoje nas palavras de David Haziot: "... a obra de Van Gogh nem sempre é triste ou trágica. Ela respira as vezes uma incomparavel felicidade de existir."

Por fim, deixo o link da Gabriela, pq citar as fontes, reza a lenda, faz bem: http://emquantos.blogspot.com.br/2012/06/drama-de-segunda.html