“A ditadura da mediocridade” no campus de Caetité

A moralidade, embora caindo em progressivo desuso, ainda encontra quem faz dela uma morada. Num contexto de relativo descrédito, com a política e os políticos, com as religiões, governos, empresar e universidades, manter a integridade torna-se cada vez mais um desafio, ao qual nem todos estão dispostos a enfrentar. Há, no entanto, alguma esperança. Com a devida vênia reproduzo abaixo, na integra, a carta do professor Paulo Henrique, que mesmo, miúdo, não cansa de alargar os sítios da moralidade.



“O sujeito ético só pode existir se preencher as seguintes condições: ser consciente de si e dos outros, ser dotado de vontade, ser responsável e ser livre.” M. Chauí

Durante os dois anos da minha gestão foi travada uma séria luta pela qualidade na educação superior. Uma luta pela maior disponibilidade semanal do docente, pelo acompanhamento da freqüência docente, pela implementação de projetos acadêmicos, pelo cumprimento do regime de dedicação exclusiva e pela qualidade das aulas na graduação. Com o término da minha gestão, rápida e sorrateiramente, o campus retornou ao seu antigo leito. Evidencia-se o avanço de uma estranha noção de professor horista que o desobriga da pesquisa e extensão, cuja prática passa a ser nivelada com as dos docentes das universidades particulares. Uma noção perniciosa e oportunista, defendida avidamente dentre professores do campus: “a mediocridade coroada encena ser uma instituição séria, de ‘ensino superior’” (Kothe). A luta pelo ensino superior como espaço não exclusivo à sala de aula, desconectado da pesquisa e da extensão universitárias, sucumbiu ao pseudo-compromisso reinante.

As últimas deliberações da plenária e do conselho de departamento da nova gestão do campus revelam uma luta inglória. Fato que se agrava porque deliberações são aprovadas sobre pontos não incluídos em pauta e orquestradas pelos que buscam degradar o conhecimento sob o menor enquadramento das horas-aula em dias da semana. Prática estranha às gestões anteriores do campus, em que se primava pela ampla divulgação das pautas de discussão no interesse único de promover a participação democrática e a liberdade no debate de idéias e ações. Cabe perguntar onde reside a democracia tão arrogantemente defendida em discursos pelos oportunistas de plantão? Por certo na infixidez da multicampia na Uneb, cujas moradas provisórias dos docentes fazem dos campi, e particularmente do campus de Caetité, lugares de passagem transitória. Uma ação em que o discurso que se afirma democrático se contradiz. Abandonado o debate intelectual, impera a vulgaridade dos discursos sem ação: “À mediocridade intelectual somou-se a baixaria moral”. (Kothe).

Para que aqui não se configure um discurso sem evidências, reporto-me à plenária departamental que suspendeu o Ato Administrativo 213/2006. Viu-se ali o açodamento ardiloso de ponto não incluído em pauta em que tanto a presidência da mesa quanto a plenária não dispunham dos materiais obrigatórios à instrução do ponto a ser apreciado. Um dos instrumentos para a construção do ensino superior no campus foi suspenso sob o cinismo majoritário do “sei, por ouvir dizer” e pela omissão vacilante: “Nunca as relações de compadrios foram tão escancaradas e perversas”. (Roberto Sá).

Por fim, gostaria de dizer a todos que confiaram na minha gestão - e que pelos seus atributos se identificaram com a minha posição no processo eleitoral - que equívocos fazem parte da vida e a eles estamos todos sujeitos. Apesar dos últimos acontecimentos revelarem uma postura diversa dos propósitos que sempre defendi, espero que continuem firmes na luta pela construção de um projeto sério para o campus.

“Na universidade, recebe mais salário quem foi mais salafrário. Recebe menos quem produz mais em termos acadêmicos”. F. Kothe

Paulo Henrique Duque Santos
Prof. do curso de História da UNEB/Caetité
Caetité, 23/10/2008

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